quinta-feira, 8 de setembro de 2011

As técnicas construtivas romanas, como a taipa e o uso do adobe, voltão a estar em voga. isto se dá devido à crescente preocupação com a sustentabilidade das construções. Ao utilizar materias locais, evita-se o deslocamento destes por longas distâncias, diminuindo, assim, as emissões de carbono na atmosfera.



Casa de Taipa / (imagem: arquivo do site ABC Terra)

Vencendo preconceitos, profissionais retomam pesquisas e projetos sobre o uso da terra crua na construção civil. Ameaça de escassez de matéria-prima e preocupações com o meio ambiente são alguns dos principais motivos para essa mudança de postura. Hoje, essas técnicas, embora não comercializadas ainda em longa escala, já começam a ocupar um papel importante na sociedade.

De influência romana, as técnicas construtivas como taipa e adobe foram trazidas ao Brasil pelos portugueses na época da colonização. As casas mais sofisticadas daquele período, além de igrejas e fortificações, foram construídas utilizando o próprio solo regional como matéria-prima. Com a chegada de técnicas mais modernas – tijolo cozido e cimento – provenientes da industrialização, as construções de barro cru passaram a fazer parte da arquitetura das habitações apenas do interior do país e dos menos favorecidos.

Atualmente, em alguns casos, a terra crua e o cimento se combinam para formar um novo material, por exemplo, o tijolo de solo-cimento, que une a qualidade da edificação com a vantagem de menores custos e menor impacto ambiental. Morador de uma casa construída com esse material, o professor de projeto de arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ex-conselheiro federal Fernando Costa, diz que os maiores benefícios do uso do solo-cimento são mesmo o baixo custo do produto e a possibilidade de uso de mão-de-obra local, sendo um bom produto para fabricação de casas populares.

Ele alerta, entretanto, para alguns cuidados que se deve ter na hora da construção para que o barato não saia caro: segundo o professor, não é qualquer terra que serve para fabricação do tijolo. Então, primeiramente, é necessário testar se a terra é boa; depois, usar, de preferência, máquina nova para comprimir a terra, o que evita a fabricação de blocos defeituosos e a oneração da obra. De acordo com o arquiteto holandês Johann Van Lengen, no livro Manual do Arquiteto Descalço, as terras brancas (arenosas) e negras (gordurosas) não servem para fabricação de adobe. As vermelhas e a castanhas servem, mas as amarelo-claro são as melhores.

Quanto à sustentabilidade do material, o arquiteto e urbanista Renato Savalli, secretário do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/RN) e ex-conselheiro do Crea-RN, diz que o conceito é muito amplo e controverso, longe de se chegar a um consenso. No entanto, não há como desconsiderar a economia do uso da terra crua nas construções, como utilização de matéria-prima da região, sem a queima de carvão ou lenha, utilizando muito pouco ou nenhum combustível no transporte; assim como pouquíssimo cimento e aço. Além dos benefícios de obras com bom desempenho em termos de conforto térmico e acústico, resistentes, duráveis e, ao fim da vida útil, recicláveis.

Segundo Savalli, os problemas ambientais sofridos pelo mundo inteiro hoje são reflexo das ações do homem em decorrência do seu processo evolutivo e, por isso, é obrigação do próprio homem resolver o problema de sobrevivência no planeta. Embora todos possam fazer parte da solução, Savalli atribui aos profissionais envolvidos na construção civil um papel maior. “Nessa corrida contra o tempo, temos que lançar mão de todas as estratégias possíveis: de energia solar, eólica e das marés à construção com terra. Sem preconceitos, desde que o resultado final esperado seja atingido”, diz ele.

Savalli lamenta que, apesar das pesquisas realizadas em universidades, a abordagem das técnicas de construção com terra crua nas salas de aula ainda seja superficial. “Para superarmos essa barreira será necessário que haja decisão política de adotar essas técnicas em escala”, afirma. Atualmente, o trabalho de difusão das técnicas é feito por organizações não-governamentais dedicadas à causa da ecologia, com foco nas ações humanas sobre o meio ambiente.

O arquiteto Fernando Minto concorda com Savalli quanto à abordagem dessas técnicas nas salas de aula das universidades. Ele atribui a isso a dificuldade de se encontrar profissionais com domínio das técnicas, além da abertura tímida do mercado para esse tipo de construção. Minto, juntamente com o arquiteto Paulo Montouro, tem um projeto de retomar, com os mesmos objetivos, a organização não-governamental ABC Terra, que reunia profissionais experientes em construção com terra crua ou que tinham interesse no trabalho para divulgar e fomentar as técnicas de arquitetura com barro.

Conheça algumas técnicas de construção com terra crua
Taipa de Pilão – É uma das técnicas de construção com terra crua mais antiga do mundo. É formada por terra úmida comprimida entre taipais de madeira desmontáveis, removida logo após estar completamente seca.
Matéria-prima: terra local, areia ou argila e estabilizante (cal, baba de cupim sintética, cimento). Existem outras opções de estabilizante.
Mistura: A porcentagem ideal do solo é de 30% argila e 70% areia. A umidade adequada da mistura pode ser verificada ao apertar um punhado de terra e deixá-lo cair de 1m de altura, devendo partir-se em alguns pedaços. A mistura deve ser perfeitamente homogênea.

Adobe – a técnica consiste em moldar o adobe cru, em formas de madeira, secando depois ao sol, sem necessidade de cozimento.
Matéria-prima: terra e água.
Dica de mistura: junte a terra e a água ao esterco de cavalo ou de burro e misture a palha quebrada e deixe secar. O esterco vai aumentar a resistência do adobe à umidade e ao desgaste pelo tempo, além de evitar que cupins e barbeiros penetrem as paredes.

Tijolo de solo-cimento – Essa técnica é uma evolução do adobe. A mistura é prensada em uma máquina própria ou em formas de madeira ou lâmina metálica.
Matéria-prima: água, solo e um pouco de cimento.
Mistura: pode-se adicionar aos componentes básicos uma mistura de cimento e cal ou asfalto.

Para saber mais:

Instituto Tibá -
www.tibarose.com
Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (IPEC) –
www.ecocentro.org
ABC Terra –
www.abcterra.com.br
LENGEN , Johann Van. Manual do Arquiteto Descalço. 4ª Ed. Revisada. São Paulo: Empório do Livro, 2008.

Aryana Aragão
Assessoria de Comunicação do Confea


Fonte: http://www.iabjf.org.br/publicacoes.php?cont=87


Um comentário:

  1. Essa matéria já foi postada dia 07 de setembro! ver comentário relacionado!

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